Nunca
acreditei muito nessa história de amor à primeira vista, em olhares que se
cruzam e assim, eu acabar me apaixonando perdidamente por alguém. Isso é
surreal demais, afinal, esse tipo de coisa não passa de atração física, onde o
emocional não tem nada a ver. Além do mais, amor à primeira vista não
aconteceria comigo, minha vida é cruel demais para me dar algo bom. Portanto,
aprendi a ser realista, e deixar essa história acontecer apenas nos livros.
Contudo,
por mais que a vida seja uma puta ingrata, que ama fuder com a gente, o destino
ainda está ali, sempre preparando algo interessante para nós. Foi assim que o
conheci, foi por causa do destino que o encontrei, e aprendi que a vida pode
ser gentil com a gente também.
Estava
no meu horário de almoço na universidade. O dia estava bonito, o sol do
meio-dia brilhava, alto no céu. Estava em meados de Maio, e uma brisa gentil
balançava as copas das árvores. Eu havia, a pouco, saído de uma prova
particularmente difícil e muito importante. Minha cabeça parecia que iria
explodir.
-
Nossa, essa prova foi terrível! Eu não sabia o que escrever na quarta questão!
- exclamou minha amiga e colega de classe, Amy, ao meu lado, enquanto andávamos
em direção ao restaurante universitário.
- A
quinta pelo menos estava fácil, pena que só valia meio ponto. - comentei, meio
triste, meio conformada. Eu iria me ferrar na matéria se não fosse bem naquela
prova, mas além disso, estava com outros pensamentos na mente, problemas em
casa, e isso me deixava meio zonza.
-
Cara, chega de falar dessa prova, vamos comer. - anunciou Amy, enfaticamente,
me arrastando em direção ao restaurante, apenas parando na fila que se formava
para entrar no local.
-
Eu estava pensando, Amy. - falei, enquanto procurava meu RA e meu livro favorito
do escritor Brandon Sanderson. - Quando a nota sair, vamos ir pra um barzinho?
- olha, eu realmente não iria beber, apenas sair e esfriar a cabeça,
comemorando meu sucesso ou fracasso, dependendo da nota.
-
Essa foi a melhor ideia que você teve hoje Saphira! Só não vá beber demais
hein? - falou Amy, rindo e continuando a andar enquanto eu ainda revirava minha
mochila, a procura do livro.
-
Droga... Amy, meu livro não tá aqui. Acho que esqueci ele na sala. Vamos lá
comigo pegar ele?
-
Claro, tá cedo ainda, vai dar tempo de almoçar de boa hoje. - revirei os olhos,
Amy só pensava em comida, e ocasionalmente no Thiago, nosso colega de classe e
paixão secreta dela.
E
assim fomos nós, em busca do meu livro perdido. Se eu não o encontrasse eu iria
surtar. Ele foi um presente dos meus pais antes deles partirem. Hoje eu moro
com meus tios e meu priminho Augusto, de 6 anos.
Enquanto
eu saia da fila, atrás da Amy, terminando de fechar minha mochila, mais triste
por ter a possibilidade de perder meu livro, além de velhos problemas ficarem
me atormentando, me deixando inquieta e com uma sensação estranha e angustiante,
eu o vi.
Sabe,
odeio coisas clichês, principalmente no quesito romance. Odeio romance, tanto
nos filmes quanto nos livros, isso não faz meu estilo. Mas eu não consigo
descrever o que aconteceu sem parecer clichê. No momento em que eu olhei para
frente e nossos olhares se cruzaram, o mundo parou. Por alguns momentos só
havia ele naquele lugar, e por alguns instantes me esqueci de tudo. Na minha
mente só ele foi registrado, como se eu tivesse marcado na memória com ferro e
fogo aqueles poucos segundos em que o vi. Imediatamente fiquei encantada por
aquele rapaz alto. Sua tez era pálida, seus cabelos castanhos batiam na altura
da nuca, seu rosto era anguloso e havia uma barba por fazer em seu rosto. Além
de alto, ele era esbelto e tinha olhos que me arrebataram em questão de
segundos.
-
Saphira! - gritou Amy do meu lado, me fazendo olhar pra ela.
-
Que foi cara?
-
Você tá bem? Parece que viu um fantasma.
-
Não, tô bem sim. Vamos, quero tentar encontrar meu livro rápido. - e
continuamos andando até a nossa sala, onde, graças aos Céus, consegui encontrar
meu livro.
Andando
de volta ao restaurante, Amy narrava uma conversa que havia tido com Thiago, e
eu escutava apenas metade do monólogo dela, perdida em minhas lembranças e
pensamentos.
-
Porra Saphira, que tu tem garota? Você nem tá me escutando e com essa cara
parece que tem alguma coisa te aborrecendo. O que é? - falou Amy, me olhando
preocupada.
- Amy,
não é nada... são só problemas. Mas deixa quieto, eu resolvo.
Ela
me olhou desconfiada. Amy me conhecia bem demais para que ela levasse essa
mentira a sério, mas ela deve ter visto algo em meus olhos que a fez ignorar
esse assunto.
-
Você que sabe gata, mas se você quiser desabafar comigo, é só falar viu? - eu
sorri para ela e entramos no restaurante.
***
O
sol atingiu meu rosto, e a manhã começava como todas as outras. Acordei com uma
sensação estranha, com uma sensação de perda. Levantei da cama, indo ao
banheiro para me arrumar, tinha aula naquela manhã e não poderia chegar
atrasada.
Já
estava no segundo ônibus, para chegar à universidade, quando eu reparei em um
movimento no corredor, desviei meus olhos do livro que lia e reparei na pessoa
que entrava no ônibus. Fiquei pasma ao perceber que era o mesmo rapaz que havia
visto no dia anterior. Ele me olhou e sorriu, se sentou no banco ao meu lado e
eu continuei abismada. "É sério isso?", pensei comigo, meio chocada,
meio impressionada, "ah, isso não é nada, apenas um acaso. E outra, um
sorriso não significa nada, ele é só um estranho mesmo". Voltei a ler, mas
o sujeito me desviava a atenção do livro. O fechei e apenas escutei música,
tentando relaxar, com os olhos fechados.
Contudo,
sabe quando você sente que tem algo errado, quando você tem certeza que algo
não está certo? Pois bem, eu tive essa sensação no exato momento em que a
lembrança do meu sonho retornou. Eu havia esquecido que sonhara aquela noite,
mas me lembrei, do nada, do pesadelo que tive...
...
Era um lugar escuro, eu não sabia onde estava e mal podia escutar minha
respiração. Estava frio, eu podia sentir isso, e também sentir a escuridão me
envolvendo, como se fosse uma mortalha. Sentia que era meu fim, sabia que algo
estava no escuro esperando minha morte, apenas esperando...
Arquejei
alto dentro do ônibus, abrindo meus olhos de repente e tentando me localizar. O
veículo estava parado na rodovia, as pessoas murmuravam, e estava escuro lá
fora.
- O
que está acontecendo? - escutei o rapaz ao meu lado falar. Eu olhei para fora e
mal pude discernir os contornos do horizonte, o breu era absoluto, e o sol
havia sumido, junto com as estrelas. Meu coração apertou, eu sabia o que estava
ocorrendo.
-
Não pode ser... - murmurei, lágrimas caindo dos meus olhos. Era muito cedo para
que aquilo ocorresse, eu ainda teria mais 1 ano...
-
Moça, você está bem? Tem alguma coisa errada? - perguntou o estranho, com um
tom calmo e gentil que trouxe de volta um pouco do meu discernimento.
-
Não está nada bem, a gente precisa sair daqui... isso não é nada bom... - eu
falei, me levantando e pegando minha mochila. Eu tinha que impedir aquilo.
- O
que está acontecendo?
- O
fim do nosso mundo... o nosso fim...